sábado, junho 30

Referendos de conveniência

Acho assaz interessante como a bancada parlamentar do PCP, que tão veementemente exige agora o referendo para o novo tratado europeu, não achava de todo necessário apenas há uns meses um referendo sobre a questão do aborto. Consideram agora que o povo português tem legítimas dúvidas sobre o actual projecto de construção europeia mas estavam absolutamente seguros que o mesmo povo português não tinha quaisquer dúvidas sobre a IVG, ainda que esse povo houvesse votado maioritariamente contra em referendo anterior.

É claro que não é só o PCP. São todos. A começar pelo governo que primeiro referenda e depois diz que já não é necessário porque já não lhe convém.

Para quem, como eu, acredita a sério nos benefícios da democracia participativa, no fugir aos espartilhos partidários e aos seus afunilamentos de raciocínio, é triste ver como estes reduzem a instituição do referendo a conveniências de circunstância, oscilando entre a sua suprema importância ou total insignificância conforme sopra o vento. E nas águas agitadas da política portuguesa o vento tanto muda de direcção, quando a vaga vai alta, o barco mais entorna, o povo já enjoa. E se o grómito sair em forma de NÃO no boletim de voto, como em França ou na Holanda, depois espantem-se...

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