quarta-feira, julho 19
"She scans the room for a star to consume"
Chegou aos escaparates o melhor disco lançado este ano. Sim, assumo o que digo, o disco do ano. Os autores da proeza já andam nisto há 25 anos. A banda chama-se Sonic Youth e o disco “Rather Ripped” é o 20º da carreira. Ao vigésimo disco, é suposto já não haver muito para dizer sobre uma banda. E é esse o maior defeito que se pode apontar aos SY. É o de andarem nisto à tanto tempo que, às tantas, até o fã mais empedernido (sim, também assumo) deixa de se surpreender.
Mas depois um gajo relativiza e a prova vem nas perguntas que surgem no horizonte, assim do nada. Quem, no rock actual, tem uma voz que se compare à de Kim Gordon? Experimentem ouvir a faixa inicial do disco “Reena” ou “Turquoise Boy”antes de se pronunciarem. E quem, e esta não admito discussão, no rock actual, toca bateria como Steve Shelley? Um mestre de precisão, que é obrigatório ver ao vivo. Quanto aos guitarristas (e vocalistas) Lee Ranaldo e Thurston Moore, admito que quem considera o feedback de uma guitarra com mero ruído os possa odiar. Mas não se lhes negue a destreza para levar aos limites essa tão descurada arte.
“Rather Ripped” continua a senda de “Sonic Nurse”, o anterior registo da banda, que volta a pôr o quarteto de Nova Iorque (de regresso à formação clássica após a saída do guitarrista/baixista/produtor Jim O’Rourke) na rota do registo canção. São dois discos que permitem aos que nunca ouviram os Sonic Youth entrarem de mansinho num território hostil. É que estes meninos resolveram fazer tudo ao contrário. Começaram em 1981, e depressa ganharam o estatuto de estrelas do rock alternativo. Só em 1990, ao nono disco, assinaram por uma multinacional, mas foi preciso esperar mais dois anos para a banda lançar o seu álbum mais “comercial”. “Dirty” explodiu numa época em que o mundo se extasiava com “Nevermind” dos Nirvana, uma das bandas que os SY apadrinharam.
O disco seguinte podia ter ido o começo de uma carreira nos tops, mas os SY resolveram baralhara as coisas. “Experimental Jet Set, Trash and no Star”, de 1994, recolocou a banda na prateleira do rock alternativo. A partir daí, os sónicos fizeram uma série de álbuns francamente ruidosos, que não deixavam margem de manobra aos ouvintes. Ou se tinha a semente germinada para acompanhar as colheitas, ou a coisa ficava definitivamente arrumada na prateleira dos demasiado esquisitos.
Talvez “Sonic Nurse” e “Rather Ripped” cheguem demasiado tarde. O rock de hoje faz-se de revivalismos (nada contra, há muito boa gente a fazê-lo) mas os SY nunca precisaram de se citar a si próprios. Não inventam a pólvora. Divertem-se a fazê-la explodir cirurgicamente no preciso momento em que é preciso fogo de artifício. O primeiro vídeo do disco está disponível aqui.
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