... ao ver um brasileiro, preto, Ministro da Cultura do seu país, afirmando que existem certas coisas, poucas, em que uma pessoa decide acreditar. Mesmo e até ao fim. No caso dele, uma dessas coisas era o pensamento do Prof. Agostinho da Silva.
... ao ver outro brasileiro, preto, músico de rua da Paraíba, acompanhando-se de um único pandeiro e num baião alegre e bem rimado, a elogiar cantando o trabalho educacional do Prof. Agostinho da Silva que, 50 anos antes, aquando do seu exílio, fundara a Universidade Federal de João Pessoa. "A cultura com ele desceu à rua", dizia um dos versos.
... ao ver um português, branco, puto estúpido de serviço (orelhas e tudo), a responder assim à seguinte afirmação do professor num "Conversas Vadias de 1988":
Agostinho da Silva- O problema dos intelectuais portugueses é darem-se só e em demasia uns com os outros. Deviam ir ter com a gente do campo. Ver como vivem. Aprender com o povo.
Miguel Esteves Cardoso - Bem me parecia: você é maoista!...
Depois deste e doutros absurdos em directo, o Prof. Agostinho da Silva nunca mais voltou à televisão em Portugal. Até morrer. Prosseguia a secular novela de um país que gosta de tratar mal quem franca e desinteressadamente lhe quer bem. Próximos capítulos virão.
4 comentários:
Bem sei que este é um blogue de paz, mas não posso deixar de lhe responder. Eu lembro-me da entrevista que MEC fez a Agostinho da Silva. Na altura, o filósofo estava na moda e destacava-se pelas frases redondas que, bem espremidas, não queriam dizer nada. Bem ao jeito do tal ministro que você elogia, um homem cujo discurso público está a milhas do cantar público. MEC foi implacável, brutal, se calhar até mal educado. Mas o professor Agostinho insistia nas piruetas verbais e confesso que nunca percebi onde é que acabava o senso comum e começava a originalidade do pensamento do pensador. Provavelmente, o erro é meu, porque não lhe conheço a obra. Mas, na altura, achei as invectivas do MEC mais que justificadas. Fazer juízos de valor passados todos estes anos é que me parece deslocado.
Bom, eu teria 13 anos e estava em Macau aquando dessa transmissão original do programa. Não o vi na altura (só foi transmitido na TDM 2 anos depois) nem teria sabido ajuizar seja o que fosse do que ali foi dito com propriedade. Desde já os meus elogios pela memória de elefante e pelo despertar precoce de uma conciência politico-filosófica que, aos 12 anos, lhe permite analizar as "piruetas verbais" de pensadores com 7 vezes a sua idade.
Em relação ao Agostinho da Silva estar na moda então, decerto não quererá fazer-nos crer que foi ele que planeou essa fama, fruto de um súbito desejo de estrelato aos 70 e tal anos... Foram os media que o haviam esquecido durante tanto tempo que de repente o descobriram e, como sempre fazem, o exploraram pelo lado mais popularucho e mais simplista da sua forma de ser e de estar na vida.
Quanto ao MEC, nada tenho contra ele. Apenas acho que aquele foi um momento triste da sua vida profissional, do qual, arrisco, o próprio, olhando para trás, se arrendenderá.
Enfim, os homens medem-se pelas suas obras. As do Prof. Agostinho da Silva estão bem patentes. Perduram e perdurarão no tempo. Ao contrário das do MEC. Isso ficou bem demonstrado no documentário que vi no outro dia RTP2, realizado pelo neto do Agostinho da Silva, e que motivou o meu juizo de valor "passados todos estes anos". Lamento que lhe tenha parecido deslocado. Aplique esse "seu" juizo de valor ao "seu" comentário e reflicta. Com bom senso.
O Prof. Agostinho da Silva não era Maomé
Vi, recentemente, a entrevista de Miguel Esteves Cardoso ao Prof. Agostinho da Silva. Ainda que concorde com muitas das críticas feitas por MEC ao AS não pude deixar de notar que o espírito científico do professor é muito superior ao do MEC( isto porque é a dúvida constante que leva ao conhecimento).Por muito estranho que possa parecer eu concordo com as ideias do MEC mas identifico-me com a maneira de pensar do AS. Talvez o pensamento produza questões e não ideias.
Não pude deixar de me rir de um velho professor que acha que os portugueses são superiores a outros povos. Não pude, também, deixar de me rir de, um então jovem intelectual, que fica tão perturbado, por lhe dizerem que só convive com intelectuais e que não conhece o povo do seu país que é impelido a chamar "maoista" ao professor Agostinho da Silva...
Devo dizer que em vinte minutos consegui ficar desiludido com ambos..
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