sábado, março 12

O Segredo dos Punhais Voadores



Estreou agora O Segredo dos Punhais Voadores, de Zhang Yimou, cineasta chinês com uma carreira apreciável que sintetiza na perfeição a evolução que o cinema do seu país tem vindo a desenvolver: Desde o início, em 87, com Milho Vermelho, altura do primeiro boom chinês, em que as histórias de uma realidade rural oriunda do Oriente despertaram a atenção do mundo ocidental - com a colaboração da mítica actriz Gong Li, expoente máximo desse exotismo - , passando pelos anos 90, em que uma maior abertura da China trouxe vários filmes que se revelavam críticos do regime comunista, e particularmente da época da Revolução Cultural instaurada por Mao Tse Tung, como o seu Viver, que lhe valeu uma proibição de filmar durante dois anos, , e continuando no presente com a revitalização dos filmes de artes marciais que tem vindo a acontecer neste milénio, sobretudo desde o aparecimento de O Tigre e o Dragão de Ang Lee (curiosamente oriundo de Taiwan), com o anterior Herói e este O Segredo dos Punhais Voadores, que formam uma espécie de díptico sobre as origens do Império Chinês.

Zhang Yimou revela nesta obra que se tornou um mestre da estética: a cinematografia é irreprensível, revelando bastante cuidado até aos últimos pormenores, sendo que cada plano poderia ser uma belíssima pintura, algo que aliás sempre o caracterizou: desde o início da sua carreira que a cor sempre foi um elemento fundamental. Com a evolução da tecnologia, é-lhe agora possível exponenciar ao máximo o uso da cor para sublinhar a história e os protagonistas, bem como os movimentos perfeitamente coreografados das cenas de luta, que chegam a ocorrer em pleno ar: estas histórias passam-se na altura em que os homens voavam, como acontecia na mítica série televisiva Os Jovens Heróis de Shaolin. Golpes, saltos e arremessos incríveis povoam o imaginário deste género de filmes que parecem cada vez mais reais. Tudo é estilizado ao máximo, tudo é coreografado ao pormenor, tudo parece acontecer à nossa frente, mas...

Mas o ponto mais forte deste filme acaba por ser também a sua maior fraqueza: se é visualmente arrebatador, falta-lhe algo que o justifique. No fundo, é sobretudo forma e pouco conteúdo. A história peca por ser demasiado simples quando devia ter mais complexidade - como no caso dos personagens e suas motivações, em que estes são mais caricaturas do que pessoas com vida - e perde-se demasiado em reviravoltas previsíveis que mais não são que desculpas para alinhavar as sequências de acção.

E é pena. Porque o filme contenta-se com ser um objecto de consumo imediato, pese embora acima da média, quando tinha o potencial de ser muito bom. O anterior Herói, pelo menos, tinha o mérito de ser irreverente, ao ser defensor de uma ideia de uma China única, visto que embora a história se desenrolasse em tempos ancestrais é impossível não fazer um paralelismo com a actualidade. Polémico, sim, mas nem por isso menos bom. Afinal de contas, se é possível ver O Triunfo da Vontade e apreciar-lhe os méritos sem sentir um desejo irreprimível de invadir a Polónia, o mesmo acontecerá neste caso.

Zhang Yimou já tem o seu lugar na História do Cinema, mas não será por causa desta obra.

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