terça-feira, fevereiro 6

Sim, sim.

Ambas as campanhas do referendo são muito melhores hoje do que em 1998. Mais eficazes pelo menos. A do Não, sobretudo, acertou em quase todas as mouches (impostos, pergunta mal feita, etc) e deve ter convencido muitos indecisos. O Sim demorou mais mas acabou por entrar também pelo caminho dos argumentos eficazes. É uma campanha e serve para ser ganha, não vale a pena embarcar em grandes lirismos. No geral acho que o Não tem melhor campanha mas o Sim melhores argumentos.

Também não vejo em que é que o referendo pode conter uma questão pessoal ou do foro intímo. A decisão de fazer um aborto é pessoal, decidir se uma mulher deve ir presa por o praticar ou decidir se a mulher deve ter assistência médica enquanto o faz não tem nada de privado. Antes pelo contrário.

Não é necessário saber se o eleitor é a favor ou contra o aborto, nem saber das suas reservas morais, nem o que pensa do planeamento familiar. Para mim trata-se de criar um sistema em que as duas opções existam e isso só acontece com o Sim. O meu Sim está fundamentado apenas nestas questões, e nenhuma delas moral ou privada. Uma mulher não deve ir presa por abortar. Uma mulher tem que ser assistida por um médico para o fazer. Uma mulher só pode ser aconselhada a não abortar se a sua prática não for crime.

Portanto, sim.

p.s. Argumentos na mouche não são bons argumentos, mas argumentos que sensibilizam as pessoas e que por isso têm funcionado. Lamento muito que haja gente capaz de votar não porque os "seus impostos" sirvam para financiar um IVG assistida. Mas há, e o Não soube topá-las ao longe. Também lamento este novo discurso de que o Não é a melhor estratégia para despenalizar o aborto, mas infelizmente vai funcionar com algumas pessoas. Mas a verdade é que as três condições que escrevi e me fazem votar sim, só se conseguem com uma das respostas.

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