quarta-feira, fevereiro 7

Cambalhotas extra uterinas

Acho extraordinária esta cambalhota final dos apoiantes do "Não". Lembraram-se agora de tentar encostar Sócrates às cordas e obrigá-lo a comprometer-se a acabar com a condenação das mulheres que abortam se o "não" vencer. Afinal, quem vota "não" está a votar em quê? Se não querem despenalizar (quantas vezes será preciso repetir que o que está em causa é despenalizar e não liberalizar?) como é que aceitam que haja crime sem castigo? Só mesmo o padre Marcelo e outros "humanistas" para virem com esta retórica miserável.

Também acho graça a essa ideia de que o facto de se permitir à mulher abortar em condições decentes vá provocar uma moda abortista. Como se fosse uma decisão fácil. Como se não tivesse consequências. Como se fosse fazer a depilação. Os senhores do "Não" só têm a ganhar com o "Sim". Podem expandir a sua acção dissuasora e tentar convencer as mulheres a não abortarem. O "Sim" permitirá estatísticas oficiais, ajudará a conhecer o problema e a atacá-lo. Não percebo porque é que precisam do estigma do crime aplicado a quem recorre ao aborto para fazerem valer as suas convicções.

Há muitos erros na campanha do "sim". Devia ter sido explicado claramente que modelo se defende para a concretização prática do aborto. Era preciso pôr honestidade na discussão e reconhecer que existe vida às 10 semanas. Uma forma de vida primária, mas vida. Não me faz confusão nenhuma acabar prematuramente com essa vida sem cérebro do que estragar o cérebro de quem a vai parir.

Só espero nunca mais ter de voltar a esta conversa a partir do próximo domingo.

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