"Trajouce Uma funcionária do centro de triagem de resíduos Tratolixo encontrou um feto dentro de um saco fechado. Já com sete ou oito meses de gestação, o bebé foi entregue ao Instituto de Medicina Legal para autópsia e o caso vai ser investigado pela Polícia Judiciária."
Esta é uma terceira opção - que, por mais grotesca, na altura em que escrevi o post abaixo não me ocorreu - para uma mulher portuguesa com uma gravidez indesejada ou sem condições materiais ou psicológicas para levar a gestação até ao parto. Também esta, ou sobretudo esta, espero que não mais suceda com a alteração à lei que o referendo de hoje accionará.
Não sou utópico e sei que as pessoas, mulheres e homens, irão continuar a fazer coisas estúpidas neste país. Estou apenas muito feliz e orgulhoso por, de agora em diante, em Portugal, essas mulheres e esses homens poderem escolher livremente o que é a coisa mais certa para si mesmos e levá-la a cabo sem se tornarem marginais e criminosos aos olhos da justiça.
No próprio dia do Referendo ao Aborto de 1998, uma amiga minha não votou porque estava nesse mesmo dia a efectuar a interrupção voluntária da sua gravidez em Espanha. Este facto, esta realidade, esta hipocrisia, chocou-me e dilarecou-me face ao resultado do voto dos portugueses nesse dia de raiva. Irritou-ne também então e profundamente a atitude blasé ou distanciada de alguns, que sabia, directa ou indirectamente, envolvidos em episódios de aborto, face à importância capital do que naquele dia se estava a decidir. Penso que essas pessoas terão hoje, 9 anos depois, posto as mãos na consciência, levantado os rabos do sofá e tomado a decisão e atitude que lhes pareceu mais correcta, mais justa, mais coerente. Hoje é um dia importante para o futuro de Portugal. Hoje é um dia de paz.
* "Bebé encontrado na triagem do lixo", no Expresso de 9.02.2007
domingo, fevereiro 11
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