domingo, fevereiro 11

Dies Ire. Dies pacis.

"Trajouce Uma funcionária do centro de triagem de resíduos Tratolixo encontrou um feto dentro de um saco fechado. Já com sete ou oito meses de gestação, o bebé foi entregue ao Instituto de Medicina Legal para autópsia e o caso vai ser investigado pela Polícia Judiciária."

Esta é uma terceira opção - que, por mais grotesca, na altura em que escrevi o post abaixo não me ocorreu - para uma mulher portuguesa com uma gravidez indesejada ou sem condições materiais ou psicológicas para levar a gestação até ao parto. Também esta, ou sobretudo esta, espero que não mais suceda com a alteração à lei que o referendo de hoje accionará.

Não sou utópico e sei que as pessoas, mulheres e homens, irão continuar a fazer coisas estúpidas neste país. Estou apenas muito feliz e orgulhoso por, de agora em diante, em Portugal, essas mulheres e esses homens poderem escolher livremente o que é a coisa mais certa para si mesmos e levá-la a cabo sem se tornarem marginais e criminosos aos olhos da justiça.

No próprio dia do Referendo ao Aborto de 1998, uma amiga minha não votou porque estava nesse mesmo dia a efectuar a interrupção voluntária da sua gravidez em Espanha. Este facto, esta realidade, esta hipocrisia, chocou-me e dilarecou-me face ao resultado do voto dos portugueses nesse dia de raiva. Irritou-ne também então e profundamente a atitude blasé ou distanciada de alguns, que sabia, directa ou indirectamente, envolvidos em episódios de aborto, face à importância capital do que naquele dia se estava a decidir. Penso que essas pessoas terão hoje, 9 anos depois, posto as mãos na consciência, levantado os rabos do sofá e tomado a decisão e atitude que lhes pareceu mais correcta, mais justa, mais coerente. Hoje é um dia importante para o futuro de Portugal. Hoje é um dia de paz.


* "Bebé encontrado na triagem do lixo", no Expresso de 9.02.2007

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