Através do Glória Fácil dei com um interessante bater do pé à unanimidade do Chico Buarque, por parte do Agreste Avena:
Quando digo musicalmente branco, por oposição a negro, estou a pensar naquilo que distingue a música europeia (branca) da música africana ou mestiça com influência africana (negra). A música europeia popular ou a dita erudita (pelo menos até Wagner, que depois de Schönberg é o desastre) é essencialmente a melodia com uma propensão irritante para a tonalidade. Já a música africana é feita de harmonias e ritmos, mesmo nas suas formas mais básicas a música negra é na sua essência muito mais complexa do que a branca, por mais que esta tente disfarçar com orquestrações elaboradas (só possíveis graças à simplicidade intrínseca da música europeia).
Não vale a pena ir por todo o post adentro, embora seja agradável. Mas pôr o Chico Buarque no branco só por ser um académico, e obessivo e por não gostar de estar em palcos e tudo, parece-me excessivo. O Chico Buarque é um daqueles humoristas que retiram os tiques às pessoas. É mimético com mulheres, negros, brasileiros, europeus, brancos, Pixinguinhas, Tom Jobins, argentinos, paulistas, cariocas, baianos, etc. É um curioso e estudou muito sozinho.
Mas o que me indigna neste bocadinho, agora que já defendi a unanimidade do Chico Buarque, é a injustiça com a música europeia e a confusão com a africana. Sobretudo eu, que fui mais do que uma vez injusto com os europeus, aqui mesmo no blog. Mas não podemos vir dizer que a música europeia se resume a melodia. Até porque acho que a melodia está vergonhasamente por explorar, seja em que mundo for. Mas a harmonia (perdoem o eurocentrismo) é nossa. Se há quem tenha levado a harmonia aos limites foram os europeus. De tal modo que nem pensaram em mais nada. Duvido que se encontre formas mais do que rudimentares de harmonia na música africana, se é que existe de todo (excluindo os árabes). Penso que é até de um magnífico equilíbrio os africanos terem levado o Ritmo onde levaram e os europeus a Harmonia. A melodia, num e noutro caso não a encontro espectacular.
Claro que se por música negra começarmos a entender o jazz e a bossa, então sim, a harmonia está muito desenvolvida. Mas está desenvolvida porque partiram do ponto onde os europeus a deixaram. A cada um o que é de cada um. A palavra erudita não pode ser sinónimo de música com menos mérito que a espontânea (coisa que nem existe!). Mas talvez seja isso que o Chico Buarque tem de branco. Levar a erudição e até o pedantismo à música popular. Não vejo como pode a música popular perder algo com isto.
Pode ser que com sorte o Escravisauro vos explique tudo isto tintin por tintin e ainda faça as devidas ressalvas às minhas imprecisões. Verão aí que até tenho razão.
Quando digo musicalmente branco, por oposição a negro, estou a pensar naquilo que distingue a música europeia (branca) da música africana ou mestiça com influência africana (negra). A música europeia popular ou a dita erudita (pelo menos até Wagner, que depois de Schönberg é o desastre) é essencialmente a melodia com uma propensão irritante para a tonalidade. Já a música africana é feita de harmonias e ritmos, mesmo nas suas formas mais básicas a música negra é na sua essência muito mais complexa do que a branca, por mais que esta tente disfarçar com orquestrações elaboradas (só possíveis graças à simplicidade intrínseca da música europeia).
Não vale a pena ir por todo o post adentro, embora seja agradável. Mas pôr o Chico Buarque no branco só por ser um académico, e obessivo e por não gostar de estar em palcos e tudo, parece-me excessivo. O Chico Buarque é um daqueles humoristas que retiram os tiques às pessoas. É mimético com mulheres, negros, brasileiros, europeus, brancos, Pixinguinhas, Tom Jobins, argentinos, paulistas, cariocas, baianos, etc. É um curioso e estudou muito sozinho.
Mas o que me indigna neste bocadinho, agora que já defendi a unanimidade do Chico Buarque, é a injustiça com a música europeia e a confusão com a africana. Sobretudo eu, que fui mais do que uma vez injusto com os europeus, aqui mesmo no blog. Mas não podemos vir dizer que a música europeia se resume a melodia. Até porque acho que a melodia está vergonhasamente por explorar, seja em que mundo for. Mas a harmonia (perdoem o eurocentrismo) é nossa. Se há quem tenha levado a harmonia aos limites foram os europeus. De tal modo que nem pensaram em mais nada. Duvido que se encontre formas mais do que rudimentares de harmonia na música africana, se é que existe de todo (excluindo os árabes). Penso que é até de um magnífico equilíbrio os africanos terem levado o Ritmo onde levaram e os europeus a Harmonia. A melodia, num e noutro caso não a encontro espectacular.
Claro que se por música negra começarmos a entender o jazz e a bossa, então sim, a harmonia está muito desenvolvida. Mas está desenvolvida porque partiram do ponto onde os europeus a deixaram. A cada um o que é de cada um. A palavra erudita não pode ser sinónimo de música com menos mérito que a espontânea (coisa que nem existe!). Mas talvez seja isso que o Chico Buarque tem de branco. Levar a erudição e até o pedantismo à música popular. Não vejo como pode a música popular perder algo com isto.
Pode ser que com sorte o Escravisauro vos explique tudo isto tintin por tintin e ainda faça as devidas ressalvas às minhas imprecisões. Verão aí que até tenho razão.
6 comentários:
Não me vou pôr para aqui armado em melómano a discutir harmonias e melodias, coisa para a qual não tenho sequer competência. Ignorando também a questão de saber se a música do Buarque é "negra" ou "branca", o post da Agreste tem uma virtude, que é a de questionar a figura. Chico é capaz de coisas monumentais, mas também de muitas (demasiadas, digo eu) das maiores secas da música brasileira. Um homem que enche quatro volumes com o seu interminável song book não pode fazer só pérolas. É humano.
Eu não quis dizer que Chico é branco por ser erudito ou não gostar de palco, mas como escrevi no meu post, por nas suas composições não haver uma nota fora da escala (e já agora porque começa e acaba sempre na tónica).
Quanto à ausência de harmonia na música africana sub-saarina, não concordo de todo. É certo que o ritmo está talvez ainda mais desenvolvido, e acabe por dominar, ou seja primeiro ritmo, e depois harmonia, mas esta está lá. O exemplo que me vem à cabeça é a música senegalesa ou sul-africana, mas em todas aquelas músicas tradicionais que vão para um tipo de transe, com os coros (LadySmith Black Mambazo), tudo aquilo é harmonia.
E quando digo música negra, englobo também o Jazz, que é uma música mestiça com influência africana. E concordo que com o Jazz, em particular com o Be Bop e Dizzy Gillespie, a harmonia entra numa nova dimensão. O mesmo para a Bossa Nova. Mas aí a contribuição dos europeus foi essencialmente com o formalismo, a teoria musical, uma forma de sitematização, muito mais do que com a harmonia.
Antes de mais, concordar com o Proletário. Eu gostei muito do post do Zed. O Chico Buarque tem momentos chatos, e para não ir mais longe pegamos já neste disco. Que é bom, sejamos claros. Mas conhecendo toda a obra como é o caso, um tipo torna-se exigente. E ninguém daqui a 20 anos vai preferir este disco ao "Vida", para dar um exemplo preguiçoso.
O que acho é que o Zed mistura alhos com bugalhos. Ora fala de gosto, ora fala em audições ascencionais (esta foi rebuscada, oh meu!). Quer diz que timidamente prefere África à Europa, como refere as transcrições melódicas do Chico.
Zed, vamos mesmo pôr as mãos no fogo por notas fora da escala nas melodias do Chico? E vamos entrar por começar e acabar na tónica? Assim de repente não vejo nada no grosso do jazz (free incluído) que não caia nesse pecado. Excepto determinados exercícios propositados.
Acho que a reacção à unanimidade do Chico Buarque é de valor, mas penso que os argumentos são discutíveis. O tipo tem musicas só com viola, ok. Mas há quantos anos faz o samba oficial da Mangueira? Faz! Compõe! E ganha! Samba com pandeiro e com cuíca, e com as complexidades todas que o Zed, e bem, exige à música brasileira.
O Chico é um dos melhores músicos que conheço. Não é só um escritor de letras. Se o fosse, os livros seriam melhores que os discos. E, aposto que com pena dele, não são.
Abraço, e sim, estamos cá para discutir estas coisas (estas, não os gostos, que esses não têm discussão possivel, apesar do ditado).
Não, Não, eu estava só a falar de música mesmo. Até a progressão ascencional é uma avaliação pessoal e subjectiva da maior qualidade de uns em relação a outros (embora claro, com duplo sentido, mas que não é para levar a sério).
Quanto à África, sim gosto muito da cultura africana, e da cultura mestiça de origem africana, e talvez por isso goste mais do Gil do que do Chico, mas ainda assim o meu post era só sobre música.
Não posso dizer que prefiro África à Europa, não faço julgamentos de suprioridade num sentido ou noutro. Posso gostar mais de uma música ou de outra, o que não é a mesma coisa.
O meu post era só sobre música, mas o resto pode também, aliás deve também discutir-se. Há ainda muito post pela frente. Estamos aqui para isso.
Abraço
Zed,
eu também falava só de música, e entendi perfeitamente que falavas só de música. Ao reler entendo que possa ter criado a confusão quando dizia "preferes África à Europa" e outras semelhantes, mas queria dizer somente que o preferias musicalmente falando. Não entendas da minha parte nenhuma tentativa de desconversar ou de outras chico-espertices.
Um abraço.
OK, tudo bem então.
Abraço, e boas blogagens!
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