quinta-feira, setembro 14

Les Ballets Russes

Para aí há uns 2 meses os meus pais foram à Rússia e trouxeram-me de lá uma t-shirt muito porreira com o Esquema do Metropolitano de Moscovo. È isto mesmo que está escrito, mas em russo, na camiseta por cima do desenho intricado das linhas de metro. No outro dia, envergava eu a bela da t-shirt enquanto esperava por alguém para almoçar próximo do meu trabalho. Assim estava, lendo qualquer coisa, quando vislumbro ao longe um sujeito desconhecido olhando-me fixamente e a caminhar na minha direcção. Uma personagem andrajosa, relativamente jovem e de passo cambaleante.

Já mais próximo, reparei que me mirava não na cara mas no torso. Assim como se eu fosse uma gaja e tivesse mamas. Coisa que não sou nem tenho, pelo que não estou habituado a que me olhem daquele jeito. Quando já lhe conseguia cheirar o bafo a álcool percebi, pela sua gesticulação efusiva entre exclamações incompreensíveis de júbilo, que se tratava de um arrumador russo que estava fascinado pela minha peça roupa. Cumprimentou-me, felicitou-me, admirou-me, e deu laudas ao metro moscovita, e que o de Lisboa ao lado daquele não era nada, e Moscovo é que era uma grande cidade, e tudo. Sempre sem desgrudar a vista do meu peito. Parecia estar rememorar o percurso casa-trabalho-casa que fazia em tempos idos, antes de emigrar e se tornar um indigente que arruma carros por uns tostões e já está bêbedo à uma da tarde.

É então que o sujeito saca do seu telemóvel de terceira geração enquanto me pergunta se pode tirar uma fotografia. Que era para mandar para o seu amigo e tal. Pondero a questão e acabo por dizer que sim, à falta de uma razão para responder o contrário. Ficou para aí uns cinco minutos até conseguir manter-se direito tempo suficiente para sacar a foto, enquanto empunhava o aparelho a uns 20cm do meu peito. As pessoas iam e vinham e olhavam para aquilo com uma expressão de estranheza evidente no rosto. Finalmente, o gajo lá conseguiu tirar a foto e foi-se embora todo contente enquanto enviava a foto certamente para outro arrumador russo também com telemóvel de terceira geração.

O tipo ainda voltou, tentou repetidamente abraçar-me e ofereceu-me uma bebida qualquer que não consegui discernir. De forma que quando a pessoa que eu esperava chegou deu comigo numa espécie de bailado moderno com o russo maluco. Lá consegui libertar-me, agradeci a dança e fui enfim almoçar.


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