sexta-feira, agosto 25

Adriano, o Imperador que não era Macaco

Mais umas passagens da Yourcenar que nos fazem pensar sobre o suposto progresso da humanidade desde o século II.


"Está reunido neste momento um congresso de médicos e de magistrados encarregados de estatuir sobre os limites de uma gravidez, acabando assim com intermináveis discussões legais".


Intermináveis é o adjectivo certo. 2 milénios depois estas discussões ainda não acabaram. Muito pelo contrário.

E, se nalguns pontos estamos na mesma, noutros ainda andámos mesmo para trás:

"Terminei agora a a refundição do código comercial de Palmira: tudo ali está previsto, as taxas das prostitutas e o imposto das caravanas".

A profissão mais antiga do mundo não perdeu funcionária(o)s nem clientela. O falso moralismo, esse ganhou muitos adeptos que insistem em fazer de conta que tal coisa não existe, mantendo-a à margem da lei e da responsabilização do Estado, ou seja, aumentando o grau da degradação humana.

Desde os Romanos, o desenvolvimento civilizacional num aspecto é notório: a hipocrisia.

"Não existindo já os deuses e não existindo ainda Cristo, houve, de Cícero a Marco Aurélio, um momento único em que só existiu o homem."
- escreveu Gustave Flaubert. Talvez um dia regressemos a esse ponto. Ao homem. Livre. Completo. De vícios e virtudes.


ps: Não achei na altura necessário mas prefiro agora ressalvar que, sendo do conhecimento geral que a escravidão era prática comum nesse tempo, esta liberdade a que me refiro era, obviamente, privilégio apenas dos cidadão romanos.

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