Antes de mais, se eu fosse um libanês prestes a levar com um míssil israelita nos cornos e tivesse que pensar numa música que me embalasse a subida aos céus que uma morte estúpida daquelas me faria merecer, eu esboçaria um sorriso ao som do Debaser dos Pixies (é muito difícil escolher só uma mas tem que ser, o míssil estaria prestes a aterrar-me na cachola e eu estou a escrever isto à pressa na hora de almoço...), cerraria as pálpebras e murmuraria "I am un Chien Andalucia" antes de dar o último suspiro. Assim, descansaria em paz. RIP, motherfucker, RIP!!
Não tencionava, no meu post anterior, fazer comparações musicais e de estilo entre os dois Francis. Não há comparação. Queria apenas transmitir o meu actual estado de espírito que me levou a dar 10 euros para ver o Hime ontem em lugar dos 30 para ver o Black hoje. Lá está a crise… Mas há outros factores.
Primeiro que tudo, já vi os Pixies. Como o amigo sabe, também lá estava em Sacavém e não posso dizer que o concerto me tenha enchido as medidas. O carácter quase mitológico dos rapazes e rapariga de Boston tornou-lhes difícil a tarefa de me encantarem e surpreenderem, reconheço. Mas, caramba!, tinha ouvido histórias sobre a Kim Deal toda maluca a despir-se em palco em Frankfurt ou lá onde foi e, por cá, a moça nem o pullover tirou, raios-a-partam! Ou seja, faltou chama. Queríamos (eu, pelo menos) toda aquela nostalgia reacendida e não apenas relembrada.
Em relação ao Hime, nunca o tinha visto. E tinha para mim o interesse de ouvir as canções um pouco tal como o compositor as imaginou, sem produção, sem efeitos, sem rasgos melodramáticos do intérprete, bastante mais próximas desse misterioso alambique de alquimista que é o acto de criação. Também, ao contrário do que o Comboio diz, o homem não anda a viver do passado. Tem ultimamente editado disco atrás de disco e até compôs uma sinfonia em 5 movimentos. Portanto, não me parece um sujeito preguiçoso. E o seu último albúm, Arquitectura da flor, pelas amostras que nos deu ontem a ouvir parece ser mesmo muito bom. Esse episódio da SIC que referes e que eu não vi é o habitual em televisão. Não sei que programa era mas não estás à espera que ele nos 2 ou 3 minutos que lhe deram fosse mostrar as suas novas composições que infelizmente ninguém do grande público quer ouvir. Soundbyte oblige, meu caro amigo.
O mesmo não podemos dizer dos Pixies. Fala-se de novas músicas, com as quais sinceramente espero que te presenteiem esta noite, mas ainda não as ouvi. E desde 1990 ou assim, só temos carreiras independentes que sabemos não ser a mesma coisa. Ainda assim, as Breeders foram (são?) uma grande banda! Resumindo: os Pixies reunidos é porreiro, espero que eles se estejam a divertir em palco e nos bastidores e tal, mas eu não pago para ver outra vez o que vi em 2004. Se eu tivesse bilhete à pala, aí sim, também lá estaria hoje à noite. Vê lá se ofereceste?
Por vezes acho que se nunca os tivesse visto ao vivo, seria uma homem mais feliz. Mais crente em milagres e por aí fora. O meu sorriso, olhando o míssil israelita directamente no vértice da ogiva, seria muito mais largo, mais genuíno, mais desafiador…
Shalom, motherfucker, shalom!
"'cos I am un Chien Andalucia"
and "aDONAI does not exist"...
quinta-feira, julho 20
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