quinta-feira, maio 25

Timor e o jornalismo português

Num tempo em que meio mundo discute a qualidade do nosso jornalismo (debate suscitado por filósofo desonesto e demagogo que insiste em não perceber o que o espelho lhe devolve) convém ,talvez, determo-nos na questão timorense. Ao longo do últimos anos, habituámo-nos a ver, ler e ouvir os relatos que nos chegam daquela ilha remota como sendo uma espécie de último paraíso na Terra, o sítio onde a bondade natural dos nativos se sobrepõe à dureza do quotidiano. A crise que está a deixar Timor à beira da guerra civil mostra uma realidade bem diferente. Ainda recentemente ouvi um relato (em segunda mão, mas de fonte segura) sobre uma professora portuguesa que dava conta de uma certa tendência para a resolução de conflitos pela violência. Os jornalistas que escrevem sobre Timor parecem ter criado uma cápsula de benevolência acerca da antiga colónia portuguesa. Dá a ideia que apontar os defeitos da sociedade indígena, que os tem como qualquer outra, em qualquer parte do mundo, é castigar demasiado um povo que, reconhecidamente, já sofreu mais do que merecia. Mas calar a violência impregnada no quotidiano de um país não remédio para acabar com ela. Senão ficamos todos aparvalhados, sem perceber como é que um projecto de democracia corre o risco de descambar em fracasso por causa de uma querela de militares. Algo vai mal por ali e era bom que os jornalistas ajudassem a explicá-lo, em vez de nos contarem bonitas (mas incompletas) histórias cor-de rosa.

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