quinta-feira, fevereiro 9

Rock Persistente #7 - Os DRR Chez Lapin

Não era Paris. Não era o início mas o final do século. Não eramos surrealistas. Não eramos cubistas. Não eramos sequer artistas. Não eramos Picasso, nem Breton, nem Éluard, nem Cocteau, nem nada. Mas também tivemos o nosso Lapin.

Do que eu me lembro?… Pouco. Quase nada. Quase tudo… A Névoa. A Bruma. O Fumo. A Cinza.

Assim, derepentemente, recordo-me agora de um dado período difícil de situar em dias e meses de um ano (… a névoa, a bruma…). Nessa época, passávamos muitas tardes, noites, madrugadas em casa do baterista algarvio, cujo bairro ele dizia recordar-lhe a antiga DDR, onde obviamente nunca tinha estado. Nós também não mas raios partam se aquilo não era Berlim Oriental chapado…

Tenho na memória que um de nós lhe perguntou por que razão precisava ele de um duplex enorme no Restelo para lhe servir de simples covil de estudante. Ele respondeu que o apartamento era de um familiar e que servia apenas para o mesmo gozar tardes alternativas de amor com as suas conquistas extra-conjugais; que era normal e que todos seríamos uns executivos rebarbados e adúlteros quando fôssemos crescidos; “vocês vão ver!”, sentenciou ele; todas as certezas sobre a evolução sociológica do macho lusitano estampadas no rosto. Não contestei; mas apeteceu-me perguntar se era preciso um duplex enorme para isso também…

Não me posso esquecer do seu engenhoso armário secador de cannabis com um sistema de rotação único no mundo fazendo uso dos cabides para a roupa. Depois de serem colhidas das plantas (de cultivo caseiro e, por sinal, enormes), as folhas eram penduradas numa extremidade do armário, fazendo o percurso até à outra extremidade, onde chegavam já secas e prontas, à medida que as coleguinhas que as antecediam se iam alternadamente transformando em tosse, gargalhadas ou ideias musicais tão revolucionárias como inconsequentes. Acho que éramos unânimes em concordar que aquela erva não batia por aí além. Por conseguinte, éramos tão mais unânimes em constatar que o seu consumo em quantidades babilónicas batia que se fartava. Ocasiões em que entrava em cena uma misteriosa personagem de poderes tão mitológicos quanto reais: O Homem do Martelo. Fosse quem fosse, o homem era eficiente e matava vários “coelhos” com cada martelada.

Como olvidar as vezes imensas que então ouvimos o “És muita linda!” dos Ena pá 2000… “Tu és um swatch a fazer broche”… Um momento de génio intemporal. Poeta e Presidente só há um: Manuel João e mais nenhum! Por falar em eleições, recordo-me agora também do preciso momento em que rejubilámos ao identificar a música dos tempos de antena nos acordes de introdução do “Puta”…

Tenho depois uma memória difusa de acordar de manhã, após descansar umas horas, sobre uma carpete circular, único adereço da sala (para além de um parafernália imensa de instrumentos musicais, mais do que tinha o resto da banda toda junta), para ir apanhar, ainda meio cego e surdo, o 27, junto ao Centro Helen Keller, directamente para a faculdade onde continuava a farra até ser dia. Não, isso já o era há muito, até ser tarde ou mesmo o lusco-fusco. A roupa era a mesma do dia anterior. Mas ninguém se importava, muito menos eu. Estava em casa e até podia andar de pijama e chinelos de quarto. Aliás, na esplanada daquela faculdade, só me faltou cortar as unhas dos pés…

2 comentários:

Anónimo disse...

Não me admirava nada que as tenhas cortado e não te lembres...

Anónimo disse...

Talvez. Quem sabe?
O Passado a Deus pertence...