A génese de uma memória em segunda mão
Não recordo ao certo o dia, mas acredito foi em finais de Outubro ou princípios de Novembro de 1996, numa tarde como tantas outras em que troquei as aulas por uma qualquer actividade voluntária na Associação de Estudantes. Lembro-me de alguém comentar que fora decidida a realização de um concerto comemorativo do dia da luta mundial contra a SIDA. Imediatamente questionei se sabiam já que bandas iam tocar e quando responderam ainda estar a iniciar a procura. Imediatamente inscrevi um projecto inexistente. Sem saber que nome pôr escrevi De Repente na dita folha de inscrição.
Nessa mesma tarde falei com uma série de amigos com quem partilhava o amor à música e a devoção pela folia. Não sei por que ordem foi, recordo porém que foi ainda nesse dia que o camarada Rodrigues acrescentou o sufixo Mente ao De Repente e começou a mutação eterna de um nome possível de escrever de 1000 formas.
Combinámos juntarmos uns quantos que quisessem para pensar no que faríamos em palco. Recordo ensaios entre dois ou três de nós para definir o proto-alinhamento e só no próprio dia do concerto haver um ensaio com mais de 50% das pessoas que estaria em palco nessa mesma tarde.
A memória começa a falhar à medida que a tarde avançou. Bebi imenso e fumei a dobrar. O ensaio de som foi muito interessante. Recordo perfeitamente o técnico a pedir para tocarmos todos a mesma coisa e nós insistirmos com uma sequencia aleatória contemporânea de 24 notas que antecipavam a primeira música.
Em palco estavam praticamente todas as pessoas que tocavam ou cantavam que nós conhecíamos. Na bateria estava um francês percussionista que nunca tocara bateria, nos coros metade da ala feminina Setubalense da Tuna local, na guitarra portuguesa um investigador de macacos voadores, no violino/bandolim um politólogo alentejano. Da última formação dos DRR estavam apenas o mais alto baixista da instância balnear mais próxima de Madrid, o guitarrista e trompetista de Setúbal e eu.
Recordo também parte do alinhamento porque gravámos o concerto. Não sei bem onde está essa cassete mas não deve ter fugido para longe. O primeiro tema, o tal com as 24 notas de introdução, chamava-se Conceição, ainda hoje não sei porquê. A Carolina, uma das vozes do concerto, tirou a letra de um poeta português, talvez Eugénio de Andrade e colou numa música feita à pressão. Tocámos também o Xiripi, um original em que cada um tentava fazer mais barulho que o gajo ao lado e que só tinha princípio e não tinha fim.
Nas versões tocámos o Leãozinho, mais estridente que o original do Caetano Veloso, e “I Love her all the Time” dos Sonic Youth que terá durado cerca de 2 horas.
O resto desse dia não ficou propriamente registado na minha memória. A posteriori informaram-me que um futuro guitarrista da banda tinha adormecido na casa de banho e lá passado toda a tarde e também que acabámos a noite na extinta discoteca
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