quarta-feira, novembro 30

Um Homem Feliz

Há uns anos, dava eu os primeiros passos nas lides jornalísticas, calhou-me em sorte fazer um artigo sobre a falsificação de obras de arte. Com a agenda de contactos cheia de linhas por preencher, dei por mim a ligar para a Galeria 111. Do outro lado atendeu-me Manuel de Brito, o mais importante ‘Marchand’ de arte que este país conheceu. A medo, perguntei-lhe se estaria interessado em falar sobre o assunto da minha reportagem. O "sim" imediato surpreendeu-me. Mais ainda o modo como me recebeu na sua galeria. Ao longo de uma hora e meia mostrou-me quadros (os que tinha para venda e os reservados da sua colecção privada), contou histórias, invocou episódios dos muitos amigos que tinha no mundo das artes, explicou-me como funcionava o mercado paralelo das pinturas falsificadas e como ele próprio já tinha sido aliciado para comprar quadros forjados. Para Manuel de Brito cada pintor era um personagem. Bastava-lhe analisar a forma como as pinceladas se espalhavam pela tela para reconhecer a autenticidade da obra. Saí de lá com a ideia de ter conhecido um homem simples e afável, um homem feliz que gostava de partilhar o gosto pela arte. Morreu ontem em Lisboa. Vai fazer-nos falta.

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