quinta-feira, novembro 24

Um dia, não sei quando, isto há-de ser um país

As máquinas chegaram em Agosto. A dois meses das eleições, o presidente da Câmara resolver mostrar ao bom povo do meu bairro que também há obra para ele. Durante uma semana, as escavadoras invadiram o alcatrão e rasgaram uma alameda de terra batida. Montaram uma cerca à volta do parque de estacionamento e acabaram com vinte lugares para os carros dos moradores. Num desses dias, resolvi perguntar a um funcionário que por ali andava qual era o objectivo das obras. "Vamos fazer duas rotundas". Óbvio, pensei eu. Num país onde os autarcas medem o desenvolvimento urbano dos seus concelhos pelo número de rotundas que constroem em cada ano percebi que o meu bairro estava, enfim, a entrar na modernidade. Prazo de conclusão das obras? "Lá para o Natal, com sorte", respondeu o funcionário.
Pois há quase dois meses que deixei de ver máquinas e homens a trabalhar. Ficou a lama e a vedação que fez de um estacionamento até aí pacífico uma selva de carros parados no meio da rua. A minha namorada encontrou por estes dias um outro funcionário que media os terrenos com aqueles aparelhómetros de topografia. Perguntou-lhe o que se passava com as obras. "Houve um erro de projecto. A rotunda ia invadir o jardim de um dos prédios e temos de alterar o plano. Mas as obras recomeçam em breve". Passaram três semanas e nada, nem um metro de alcatrão. Esperemos pelo Natal de 2006.

PS: O presidente foi reeleito

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