sexta-feira, outubro 21

Cavaco, versão light

Lá estava ele no palanque, com dez bandeiras nacionais atrás. Ar sério, pose concentrada, disponível para todas as perguntas. Disposto até aos atropelos dos fotógrafos sem perder o sorriso. Parecia uma figura de cera. Falou em "em imperativo de consciênica". Disse que "não se resigna" a ver o país ser ultrapassado pelos seus parceiros tradicionais da UE e que Portugal corre o risco de ficar atrás das economias de Leste. Como se um Presidente mandasse alguma coisa na condução da economia. O homem que nunca lia jornais continua a dizer que não é político profissional, apesar de ter exercido funções governativas desde 1981 até 1995. Cavaco já não é um tecnocrata. Agora quer ser o professor que vai ajudar o país a entrar nos eixos. Como adversário, tem um homem vaidoso que vai perder as eleições porque acha que o seu umbigo histórico é, em si mesmo, razão mais do que suficiente para ganhar Belém outra vez. Acho triste que não se consiga gerar mais do que isto para o cargo mais prestigiado da República. De um lado, uma raposa ardilosa, mascarada de homem providencial. Do outro, um leão saudosista, que se acha um homem providencial. Resta-me o quixotesco Alegre e a garantia de que vou perder mais uma eleição.

Sem comentários: