sexta-feira, julho 8

O outro Brad, que não o Pitt

Na versão anterior do Pitau,ainda a solo, e que covardemente apaguei, prometi a certa altura dizer qualquer coisa sobre o Brad Mehldau. Também não será ainda desta, pela simples razão que não há nada de extraordinariamente inovador neste gajo. Precisava agora de guardar este extraordinariamente inovador para daqui a bocadinho, como tal não se esqueçam dele.

O que me fez gostar do Brad Mehldau foi ser contemporâneo, ser novinho e, entre muitas outras coisas (atenção --------> muitas outras coisas), tocar versões de Radiohead e de Beatles. São standards e isto é a base da música. Na perspectiva de gente da minha idade isto são os standards, como na perspectiva do Louis Armstrong os standards eram o When the Saints Go Marching In e na do John Coltrane eram as músicas do Gershwin. O que interessa neste estilo é o intérprete e não o compositor. Dá gozo ouvir uma interpretação do Paranoid Android, pelo Brad Mehldau, porque é a nossa cultura.

Aqui e ali ouvi que o Brad - vamos tratá-lo assim - seria uma lufada de ar fresco porque inova um ambiente amorfo que é o jazz, fechado e elitista e que não permite novidades, sob pena de ostracismo e o catano. Porra!... Dizer que uma invenção única como esta, e que tem apenas cem anos, estagnou, é ter no mínimo mau feitio. A verdade é que a inovação foi tão rápida e brilhante que nos habituou mal. Nos anos cinquenta virou cinco vezes. Era de dois em dois anos! Nos anos sessenta, três. Nos setenta, mais uma. Esta herança de criatividade é tão grande que dá para ser explorada por uns quatrocentos anos, mas por qualquer razão há gente que entende que se pode já arrumar esta bagagem toda, guardá-la sossegada, e avançar rapidamente antes que o jazz estagne. Sacrilégio!

Eu penso sinceramente que está tudo inventado no piano jazz. Foram génios uns atrás dos outros a dar a volta ao instrumento, e agora já está. O que não percebo é o lamento por esta situação, ao invés do louvor ao privilégio que é partir de uma casa de partida tão cheia de possibilidades. Está tudo feito, agora é curtir, caralho!

O Brad Mehldau chateia-se, quer dizer, aborrece-se, quando o comparam com o Bill Evans e com o Keith Jarrett. Estranho, porque todos tinham um trio mínimo e todos deram grandes concertos a solo. A diferença não parte daí. A diferença, no que eu ouço, está no Brad ter ouvido Radiohead e ter achado que valia a pena tocar o Paranoid Android durante vinte minutos. A diferença é emotiva e é eu ter assistido primeiro ao nascimento de um standard e depois à sua interpretação.

Isto tudo na verdade, foi para dizer que também eu lá estarei no dia 22 de Outubro, dê por onde der.



Já agora, Sara, eu não me esqueci do teste, que ainda para mais fui eu que pedi, gosto mesmo e tudo. Prometo que vai já, logo eu tenha uma vida com um pouco mais do que contar. As manhãs por exemplo não costumam passar de um copo de ovomaltine, religioso. Achei pouco. Mania de inovar, lá está.

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