quinta-feira, março 10
50 Anos
No sábado, dia 12, terão passado 50 anos que morreu Charlie Parker. É uma oportunidade de ouro para um redondo goste-se ou não (não foi de propósito), mas não é preciso gostar de ouvir Charlie Parker para lhe atribuir a importância que tem para tudo o que veio.
Infelizmente não tenho como desmontar tudo o que o bebop fez às estruturas harmónicas e melódicas da música que até então existiam, mas de um momento para o outro (mesmo de um momento para o outro) a bateria ganha o som característico do jazz que nos é familiar, sem o bombo a bater todos os tempos como um metrónomo do inferno. A partir daqui os pratos marcam o tempo como um rastilho e o bombo entra aqui e ali com um PUM! de infernos ainda mais profundos de tão inesperado.
Passa a existir contrabaixo, tão desnecessário como imperceptível nos tempos do swing, tocado por heróis que se faziam ouvir às palmadas de mão aberta nas cordas (o slap de hoje é coisa para meninos) e que, os mais arrojados, tocavam uma nota por tempo.
A partir daqui o contrabaixo reproduz uma melodia rápida e compassada que sugere a harmonia. O bebop só precisa da sugestão para improvisar melodias. O piano deixa de estar em toda a parte e passa a sublinhar a música em vez de a tocar. As escalas de saxofones e trompetes com milhares de notas a subirem para lá dos limites, a velocidades impossíveis. Nesta altura o Louis Armstrong, para além de dizer que o bop não era jazz e nem sequer música, garantia que, tocadas tantas notas, tinham que acertar em algumas.
Não foi o Parker que inventou tudo isto, mas é a inspiração da mudança. Era a única maneira de tocar com ele. Há injustiças que dá vontade de fazer, e se calhar só há swing depois do fim do swing das big bands. Depois do Charlie Parker mudou tudo e calhou-me a grande sorte de gostar do lado para onde virou.
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