sábado, setembro 23

Na senda do audio-visual

O Spike Jonze, antes de se ter tornado um cineasta da moda, realizou vários videoclips da moda, como já aqui foi referido. Muitos e bons, inovadores, como terei - espero - ocasião de aqui partilhar. Entretanto lembrei-me de mais um cineasta da moda que começou como realizador de videoclips da moda, que marcaram definitivamente a minha formação, se bem que na altura não fazia a mais pálida ideia de quem eram as almas por trás do famoso processo criativo. A bem dizer, nem sequer interessava muito. Na altura, bastava bem o trabalho de ter de aprender os nomes das bandas ou artistas a solo, das músicas, eventualmente dos álbuns e ainda, lá está, a história que os videoclips contavam ou, em alternativa, pelo menos os planos que enchiam mais o olho.

Lá para 97, talvez a derradeira altura em que a MTV ainda se via (ainda que vagamente - o Alternative Nation, alguns clips pela madrugada), lembro-me perfeitamente de ter surgido o, se não estou em erro, segundo single do Post da Björk, que já na altura era uma paixão arrebatadora que me enchia o peito. Lembro-me ainda do espanto com que vi o clip do Bachelorette pela primeira vez, da obsessão de ir memorizando o vídeo a cada passagem, e ainda do enorme gozo que me dava saber que este iria acabar por passar durante as madrugadas em que ainda tinha o hábito de ouvir a televisão. Não me lembro, como é óbvio, como em todas as paixões, da altura em que ela passou, em que deixou de ser importante, em que se tornou apenas num hábito que se mantém.

A única certeza que tenho é que, passados muitos anos, voltei a ter um gozo enorme a ver o clip, a segui-lo atentamente, a descodificar a mensagem de Michel Gondry (o gajo do Eternal Sunshine of the Spotless Mind, pois claro! Estes dons não caem do céu!). Agora tudo faz sentido. Sobretudo a excentricidade bem marcada, a crescente sensação de ansiedade e a pontinha de melancolia que deixa no final. Um vídeo brilhante para uma música não menos brilhante:


Sem comentários: