quarta-feira, junho 21

Como apoiar a selecção bebendo Coca-Cola


Consciente que o meu destino é controlado por um qualquer dEUS louco e irónico, vi-me uma vez mais numa situação completamente nova para mim.
A água suja do capitalismo resolveu premiar 160 portugueses com uma viagem ao jogo de hoje do mundial e muito recentemente dei por mim envolvido nesse projecto. Não posso deixar de partilhar convosco como foi estranha para mim esta experiência que junta a Coca-Cola (bebida que apenas bebo em ressacas de extrema dor) e o Futebol (nem vale a pena acrescentar nada).
Na passada segunda-feira à tarde, partimos num autocarro para o Porto. A comitiva incluía, produtores, actores, animadores, seguranças, hospedeiras, percussionistas, equipa de filmagens, publicitários, etc... Chegámos ao Porto às 23h e fomos jantar francesinhas para a seguir ir dormir e acordar às 5 da manhã. Uma bela ideia. Ninguém conseguiu dormir antes das 3 e passadas umas horas estávamos todos de pé, com a barriga inchada e olhos remelados. O programa previa que um comboio exclusivo da Coca Cola, percorresse Portugal para levar os felizes premiados até ao Aeroporto de Faro, de onde voariam para a Alemanha. Chegados ao comboio começámos a preparar tudo para a viagem e actividades. O comboio era composto por 6 carruagens: 4 carruagens de passageiros, uma carruagem "Lounge" com actividades constantes que iam das massagens e workshops de percussão aos campeonatos de Playstation e uma carruagem VIP. Nas carruagens existia ainda uma mesa com um Buffet permanente.
Pelas 8 da manhã os premiados começara a chegar e as surpresas também. Ex-presidiários eram mais de vinte, todos desdentados e com a tal marca na mão esquerda. Felizmente a equipa de segurança era profissional e musculosa. As hospedeiras, meninas quase despidas entre os 19 e 22 anos, mal se podiam mexer e passaram por momentos constrangedores. Alguns dos premiados apresentavam-se bêbedos às 9 da manhã e mal o comboio partiu desataram a vomitar por toda a parte. Uma festa. Duas massagistas cervicais passaram também por alguns maus bocados fáceis de imaginar. Os workshops de percussão não correram assim tão mal já que nenhum participante revoltado conseguiu rebentar com nenhum instrumento. Mas tentaram.
Depois havia os VIPs, uma cambada de meninos prodígio e meninas que se despiram para umas revistas menos católicas. Mimados como cães de raça, mandavam vir com tudo e nada estava à sua vontade. Sorriam apenas quando uma câmera de vídeo ou fotografia apontava para eles.
As paragens foram curtas em Aveiro, Coimbra e Funcheira. Em Lisboa estivemos 30 minutos para entrarem mais 100 passageiros e promover a coisa na comunicação social. Depois do almoço a equipa que tinha partido no dia anterior estava de rastos, ainda assim aguentou muito bem uma tarde com 160 malucos perigosos à solta em 6 carruagens. O momento mais perigoso foi quando meia duzia de VIP's decidem ir fazer o workshop de percussão sem se terem inscrito. Os inscritos ficaram sem instrumentos e começaram a mandar vir com razão. Depois os mimadinhos VIP's começaram a dizer que não queriam percussão Latina mas sim Africana e ouviram um não pela primeira vez na vida. As meninas modelos iam chorando e até fizeram beicinho. De nada lhes serviu, afinal confirma-se que ficam melhor nuas nas revistas que vestidas ao vivo. Entretanto posso também informar-vos que o Boss AC não conseguiu fazer um ritmo simples e que o Virgul não parava de cantar "Olá Nina, quero cuidar de ti...", em qualquer que fosse o ritmo.
Chegámos a Faro às 18h. O cansaço parecia que tinha drogado toda a gente. Na viagem de regresso a Lisboa toda a gente adormeceu durante uma hora e a seguir e espertina aparvalhou toda a gente. Chegámos a Lisboa às 22h com 1300 Km feitos em pouco mais que 24 horas. Os premiados lá foram para a Alemanha às 4 da manhã e regressam logo a seguir ao jogo. Acredito que alguns dos ex-presidiários não conseguirão regressar face à rigidez dos horários e à dureza das condições. Antes a solitária que um prémio da Coca-Cola.

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