Hoje faz 20 anos que morreu Jorge Luis Borges. Morria precisamente durante o mais glorioso Mundial da Argentina, muito embora não me queira parecer que este facto lhe causasse grande emoção. Das poucas vezes que o ouvi mencionar o futebol foi sempre com desinteresse ou desdém, e na verdade nada digno de registo. Numa entrevista, por exemplo, dizia do futebol "Me parece una forma del tedio. Además al argentino no le gusta al fútbol. Le gusta ver ganar tal o cual cuadro". Argumento simples e gasto, mas ao Borges tudo se perdoa, como surgia no título desta entrevista.
Tenho no entanto enorme curiosidade de saber o que pensaria Borges do Maradona, isto se de facto nada escreveu ou disse sobre ele. Resistiria o seu argumento do futebol ideal, extra-clubístico, extra-nacional ao golo com a mão contra Inglaterra, pelo jogador que talvez menos necessidade tivesse de se recorrer de batota? E ao seu trágico e romântico percurso?
Na verdade, e infelizmente para a minha imaginação, acredito que para Borges o Ronaldinho Gaúcho tivesse mais valor do que qualquer outro jogador. O Ronaldinho só existe pelo futebol que lhe vemos, não existe por ser mulherengo, nem por faltar a treinos, nem por ter problemas com drogas, nem por ser subversivo, nem por ter tido uma infência pobre. É pura estética em campo e só existe em campo. Não me parece que Borges resistisse a tanta objectividade.
Felizmente para Borges tão cedo não voltará um aniversário redondo a calhar em ano de Mundial e estará livre destas arrepiantes associações, mas não resisti. Em 1978, à hora da estreia da Argentina no Mundial de que era anfitriã, resolve dar uma rara conferência de imprensa sobre o tema A Imortalidade. É uma história que me custou a confirmar e até encontrar, tais são as versões. Esta tirei-a daqui mas outras há em que a conferência seria no dia da final, seria uma aula, etc. O que interessa é que a relação com o futebol lá estava, nem que fosse para aborrecer as pessoas.
quarta-feira, junho 14
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