quarta-feira, fevereiro 1

De vários jazz

A primeira vez que saí da audição de tops e de mix tapes de amigos foi quando me virei para a bossa nova. Nessa altura lembro-me de pensar que o melhor da música era a fórmula 'um homem e um violão'. De tal modo que quando ouvi uma excelente gravação do Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Toquinho e Miucha, no Canecão, não consegui gostar de uma única música por causa da enorme banda de apoio cheia de metais, arranjos e variações (hoje adoro todos os arranjos mas perdi qualquer tipo de respeito por quem dava nome ao disco, à excepção de um deles). À medida que fui ouvindo mais comecei a interessar-me por trios e até há muito pouco achava o trio a formação ideal. Trios de pianistas como os de Keith Jarrett, Brad Mehldau, Bill Evans, os Bad Plus, trios como os Morphine e os Violent Femmes. O exagero estético fazia-me respeitar mais os Nirvana, os Muse ou os Placebo. Ou aceitar como lógicas barbaridades como ouvir os REM dizer que um cão de três patas continua a ser um cão, ou os Blur com a certeza de que um banco de três pernas é mais estável que um de quatro (??), quando se viram privados de um dos elementos do quarteto.

Neste momento são os quintetos que me enchem as medidas, para o ano serão big bands e no outro serão federações de orquestras sinfónicas. Gosto de ouvir como não suportava noutros tempos, o Birth of the Cool do Miles Davis com nove pessoas a tocar. Gosto das big bands do Count Basie, e apercebo-me da quantidade de sugestões que um músico medíocre pode tirar dos pequenos arranjos das big bands. Uma pessoa vai ouvindo mais, ficando mais zen, por vezes lê jornais estrangeiros, sei lá.

O problema é que o homem e o violão ficaram definitivamente para trás. E os trios vão ficando também. Uma pessoa perde pureza. No entanto, por vezes surgem surpresas e pessoas que arriscam. Um trio com um trompete, por exemplo. Ou um trio de contrabaixos. Vai acontecer no hot clube um concerto de um trio de contrabaixos (Carlos Barretto, Carlos Bica e Zé Eduardo) lá para meio de Fevereiro. São os nomes que são, as pessoas têm que ir ver, mas para mim continua a ser um risco um gajo fazer um trio de contrabaixos. Estarei lá, conto bem. A única vez que ouvi um trio de contrabaixos foi uma gravação do Splanky pelo Ray Brown, Christian McBride e Milt Hinton e estas são as únicas pessoas para quem acho que um trio assim não é um risco. Pessoas como o trio que estará no hot clube e se junta assim merecem aplauso e presença.

Tudo isto a propósito da série que deixei para trás aqui há semanas - mais um fracasso. O facto de eu andar a listar fracassos não tem nada de corajoso ou desonesto, e nem serve para conseguir qualquer tipo de elogios por reacção. Serve apenas para sublinhar a dignidade dos mesmos. Dignidade porque quando começava cada projecto só ambicionava à sua concretização plena, e se estudei música foi porque quis viver da música, se tive um blogue foi porque quis ser lido, se fiz uma banda foi porque quis encher concertos e se comecei a tal série foi porque quis escrever a história do jazz. A dignidade destes fracassos está em serem tão rotundos, está em terem sido planeados como sucessos. Glorificar o fracasso, isso sim, era triste.

Planeio no entanto retomar a dita série. Se parei foi porque o "capítulo" seguinte era a blue note. Ao contrário do outro elemento caracterizador do jazz - o swing - a blue note pode ser cientificamente explicada. E daí o meu bloqueio. Era muito mais fácil dissertar sobre um tema que não tem como ser ensinado como o é o swing. Assim se faz um preguiçoso. Mas voltarei, quer à série, quer à blue note. E aproveito o post para acrescentar na lista um link que já lá devia estar há muito. A Forma do Jazz.

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