quarta-feira, outubro 19

Jazz -2

Vamos imaginar que se pode começar do ponto 'menos dois', e que se pode simplificar tudo isto. A base seria

(1) as marchas compostas pelo quase quase português John Philip Sousa. No século XIX os americanos só queriam ouvir marchas e danças de salão. Curtir, no fundo. O John escreveu quase todas (as marchas), nomeadamente o mais do que muito tocado Stars and Stripes Forever (aquela que aparece muito em paradas militares nos filmes e em algumas recepções a presidentes dos EUA). Toda a gente já a ouviu. Há ainda outra particularidade do John Philip. E aqui dá especial jeito todo o imaginário que o cinema americano nos criou. Chateado com as limitações da tuba ele inventa um instrumento ainda mais grave e que projecta o som a direito mas por cima das cabeças dos restantes músicos. O instrumento enfiava-se à volta do corpo e enrolava-se até sair por cima da cabeça. Uma coisa mais ou menos assim. Se mencionei isto, nem é pelo instrumento, que me impressiona pouco. É pelo nome: Sousafone. Acho brilhante. Sousafone.

(2) a música espiritual do delta do Mississipi. Simplificando (já não é cedo), nasce de várias proibições. A de falar a língua, professar religiões africanas e tocar tambores, entre escravos. Não lhes tendo parecido mal a nova religião, começa a surgir música cantada sem instrumentos (ninguém de entre os escravos sabia tocar outra coisa que não percussão nesta altura, séc. XVIII) e cujas letras eram literais textos cristãos. Passar sem música é que não.

(3) o último e mal colocado elemento é a música original do Golfo da Guiné, região priveligiada de fornecimento de escravos para a América. Uma região fechada entre os rios Senegal e Níger, produz uma floresta tão densa que fez com que a música evoluísse sem influências exteriores, sobretudo as árabes. Podendo sair tudo daqui, saiu o maior desenvolvimento do ritmo de que há conhecimento. Imagine-se dois mil anos a estudar, experimentar e aperfeiçoar o Ritmo. Ou melhor, imagine-se o mesmo tempo a aperfeiçoar a Harmonia. O resultado será Bach, por exemplo. O Ritmo na música do Golfo da Guiné é tão evoluído quanto o é a Harmonia na Europa.

Destes três elementos, tão atabalhoadamente expostos, não virá ainda Jazz nenhum.

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